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Reencontros e as Trilhas Sonoras que o Tempo Não Apaga (Ou Apaga?)

  • Foto do escritor: Nicco Silveira
    Nicco Silveira
  • 15 de mai.
  • 3 min de leitura


Outro dia, no meio da tarde preguiçosa de um sábado qualquer aqui em Brasília, enquanto tentava decidir se encarava a pilha de louça ou me rendia a mais um episódio daquela série que todo mundo já viu (e eu, claro, estou atrasado), o aleatório do streaming resolveu me presentear com uma música. Uma daquelas. Uma que eu não ouvia há, sei lá, uma década? E, de repente, não era mais sábado, não era Brasília. Era 2000 e tanto, eu com meus fones enormes, uma espinha nova surgindo como promessa de crise, e a sensação de que o mundo estava prestes a acontecer, ou a desabar, a qualquer instante. Reencontros e as Trilhas Sonoras que o Tempo Não Apaga.

É curioso como certas melodias têm esse poder, né? De funcionar como uma máquina do tempo particular, te jogando de volta para um quarto específico, um cheiro, a textura de um moletom velho, a ansiedade de uma mensagem não respondida. E aí me peguei pensando em reencontros. Naqueles momentos em que o passado resolve bater na sua porta sem avisar, com um rosto que envelheceu bem (ou nem tanto), um sorriso que ainda te desmonta (ou te causa um leve desconforto nostálgico), e um caminhão de memórias que você nem sabia que ainda estavam estacionadas na sua cabeça.

A gente muda. É inevitável. O cabelo fica mais ralo ou ganha uns fios brancos charmosos (ou não). As olheiras contam histórias de noites mal dormidas ou de madrugadas de trabalho (ou de festa, quem sabe). As certezas da adolescência viram as reticências da vida adulta. Mas aí você reencontra alguém daquela época, alguém que dividiu fones de ouvido contigo, que te viu no auge da sua fase mais esquisita, que talvez tenha sido a trilha sonora de um capítulo importante da sua vida. E, por alguns instantes, é como se o tempo não tivesse passado.

A piada interna ainda funciona. O olhar cúmplice ainda está lá. Aquele jeito particular de rir, de falar, de se encostar na parede. Pequenas coisas que ficaram guardadas, como um CD antigo no fundo de uma caixa empoeirada. E aí a gente se pergunta: o que restou daquela conexão? O que é memória afetiva e o que ainda pulsa de verdade?

Tenho a impressão de que esses reencontros são como revisitar uma playlist antiga. Algumas músicas continuam fazendo todo sentido, a letra ainda te arrepia, a batida ainda te move. Outras, a gente escuta com um misto de carinho e vergonha alheia, tipo "nossa, eu realmente gostava disso?". E tem aquelas que, por mais que o tempo tenha passado, ainda doem um pouquinho, como uma cicatriz invisível que lateja em dias frios.

E as trilhas sonoras que acompanharam essas pessoas? Essas ficam. Uma vez, no meio de um festival improvável, onde a poeira e o glitter pareciam querer criar uma nova camada na minha pele, ouvi uma música que não escutava desde… bem, desde ele. E ali, no meio da multidão, o passado me acertou em cheio. Não foi um encontro físico, mas foi um reencontro com a sensação, com a lembrança daquele calor específico que eu jurava ter esquecido.

Não sei se esses reencontros servem para reescrever o passado ou apenas para nos mostrar o quanto caminhamos (ou não). Talvez seja um pouco dos dois. Talvez sejam só lembretes de que a vida é esse emaranhado de fios, alguns se rompem, outros se reencontram, e muitos deles têm uma música tema que a gente insiste em não pular.

No fim, acho que esses momentos são mais um ensaio nesse nosso eterno processo de vir a ser. A gente ensaia ser o "eu" de antes, o "eu" de agora, e talvez até um "eu" futuro que ainda nem imagina como vai reagir ao próximo "oi, sumido" que a vida trouxer. E, enquanto a música tocar, a gente continua tentando encontrar o tom certo.

E vocês? Qual música te transporta instantaneamente para um reencontro, real ou imaginado? Compartilha aí nos comentários, quem sabe a gente não monta uma playlist coletiva para essas viagens no tempo.


Jovem segurando livro e uma caneca ao anoitecer

 
 
 

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